quinta-feira, 6 de junho de 2013

Mundo Fantasma

Ser chato, para muitos, é uma dádiva. Ser chato e mesmo assim, ser bem aceito mais ainda. Assim poderia resumir Mundo Fantasma se não fosse as observações de suas protagonistas. É inegável que Daniel Clowes escreva e descreva muito bem suas histórias, mas como todos bom autor, sempre tem uma obra questionável. Escrita em 1989 para sua revista Eigthball no formato sério, não demorou muito para tornar-se um sucesso pela crítica especializada. Com muito sarcasmo e uma visão bem peculiar do mundo, a série acompanhava o dia-a-dia de Enid e Becky, duas jovens com grande teor de cinismo e inteligência que na interpretação delas, são colocadas frente às mais bizarras situações e pessoas, sempre com uma critica mordaz à sociedade moderna na qual elas vivem. As observações das duas são sempre afiadas, o que deixa o desenvolver da história muito divertida, mas mesmo sendo afiadas e inteligentes, elas não sabem dividir o que é bom e ruim em várias coisas. Pessoas, então, nem se fala. E é justamente nesse ponto que está o erro de Mundo Fantasma. Com uma boa dose de referência ao Apanhador no Campo de Centeio, Clowes deixa a chatice de suas personagens sobressair mais fácil do que suas possíveis qualidades. Nem as duas escapam de suas críticas.

Chatices, por mais construtivas que sejam, sempre atrapalham. Uma não abre mão da outra, nem quando se trata de possíveis namoros e transas. Descobrir outras pessoas não está em cogitação, pois para elas, o mundo poderia ser pulverizado ou reformado para pessoas que girariam em torno de seus umbigos sujos. Enit é a mais cínica, sente medo do apaixonar-se e deseja que todos também sintam. Enquanto Becky quer sentir os prazeres eróticos e amorosos que sua amizade com Enit não permite. Se são tão amigas, para que evitar a vida uma da outra?

Em meados de 1997, os oito capítulos de Mundo Fantasma foram reunidos em um só volume que tornou-se a graphic novel independente mais bem-sucedida do mercado norte-americano de quadrinhos. A Gal Editora lançou esse único volume com extras imperdíveis para quem é fã de Clowes com notas sobre as referências à cultura pop encontradas no desfecho do livro, traduções e informações sobre as músicas "ouvidas" durante a história e até uma biografia do autor.

Autor e ilustrações: Daniel Clowes
Gênero: HQ's
Editora: Gal Editora
Nota: 3,0

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