domingo, 31 de março de 2013

O Mágico de Oz - Coleção Eternamente Clássicos

Talvez seria exagero comparar O Mágico que Oz com Alice no País das Maravilhas, mas de fato, não é de grande exagero. A psicodelia no mundo encantado de L. Frank Baum apenas resume-se em cenários. Os personagens são fora do comum, claro, mas não são de tantos destaques assim. Uma garota chamada órfã Dorothy, ao lado de seu cãozinho Totó, levados por um ciclone do Kansas até a terra de Oz, só isso, já é inusitado demais para não achar o livro psicodélico. Flores tropicais em estradas de tijolos amarelos são quase que inimaginável diante do inimaginável prazer do desconhecido. As partes extremamente positivas do livro são justamente os personagens. Um espantalho poderia muito bem desejar ser humano, ter uma vida real, mas não foi como o Pinoccio, e ele só queria um cérebro para pensar melhor. Um lenhador de lata que, por sua vez, queria ter um coração para voltar a amar. Um leão que só queria coragem para exercer sua função de rei dos animais. A garotinha que nada deseja, apenas voltar para sua casa. São as coisas simples que deixam a história fluir com qualidade. As vontades são simples, as situações nem sempre e a moral surge com ferocidade. Moral essa imposta por quem não se imagina e nem se aposta.

As vontades completamente diferentes fazem bruxas de regiões diferentes se preocuparem e outras apoiarem. O medo de um local desconhecido é obviamente presente, mas a vontade de chegar na Cidade de Esmeralda fala mais alto. A enfase de um local sagrado em uma grande cidade é colocada com sutileza pelo imaginário de Dorothy. Por sua vez, Oz é a representação da imoralidade e vergonha. Toda qualidade e defeito são representados nos personagens, e até no Totó, que torna-se o curioso do grupo.

O problema é que Frank Baum não deveria ter uma boa influência para escrever. Todos sabem que o autor queria mesmo escrever uma história infantil fantasiosa, mas provavelmente não pesquisou nada antes disso. Não foi garimpar suas referências, nem tentar obter boas inspirações. Essa é a impressão que o texto passa, a impressão de que ficou faltando alguma coisa, ou aventura, ou personagens, ou locais, ou seja lá o que for, estava faltando. A forma simples do autor é o que estraga o livro. Não torna-se uma boa pedida para quem está querendo conhecer a história. Para muito, indicar o filme de 1969 pode dar mais resultados, o que é uma pena.

Autor: L. Frank Baum
Tradutor: Santiago Nazarian
Gênero: Literatura Estrangeira/Fantasia/Infanto Juvenil
Editora: Leya Brasil/Barba Negra
Nota: 3.0

quarta-feira, 27 de março de 2013

O Livro do Cemitério

Em O Mundo de Sofia, o autor Jostein Gaarder toca no assunto de que quando pequenos, os homens tem o pensamento apurado pela curiosidade e imaginação. Provavelmente Neil Gaiman leu algo parecido com isso em algum lugar, e levando em consideração ao que leu, colocou de uma forma brilhante nesse livro que tão pouco falam dele. Muita gente acha o Gaiman um pouco bitolado no quesito universos paralelos e passagens secretas. No quesito criatividade, o autor ficou mais do que famoso por ser assim. O Livro do Cemitério não seria diferente. até porque, mesmo sem precisar sair do nosso mundo, Ninguém Owens conseguiu passar para o outro lado. Brilhantemente ilustrado com seu fiel colaborador, Dave McKean, Gaiman aproveita a parceria e não sente pena das precisas pinceladas do amigo. Presenciar um crime brutal não foi o suficiente para o bebê Ninguém, escapando por sorte e indo parar em um cemitério no final da rua onde sua família morava. O cemitério, por sua vez, já havia outra família lhe acolhendo. Uma bela referência a Mogli, o Menino Lobo, a relação do vivo com o morto faz com que pensamos que quanto mais medo muitas pessoas tem de alguma assombração, o vivo tem mais espaço para colocar suas maldades em práticas. A maldade, por si só, não tem efeito ao morto, obviamente, mas mesmo depois de morto, uma pessoa pode continuar malvada. Conforme Ninguém vai crescendo, cada vez mais ele vai aprendendo sobre essas regras.

Uma pessoa jovem ser criada por fantasmas e almas penadas de fato, é algo inusitado, mas é o charme do terror fantástico que faz o livro ser tão fascinante. O que amedronta, te acolhe. O medo dá lugar ao amor familiar de um lugar inadequado para se viver e criar um filho. A culpa não é do Ninguém, e sim do acaso de um ato de puro descaso com o ser humano. Humanos esses que são menos do que os que não são mais humanos, assim trata-se de Ninguém, mesmo quando ele se acha sujo e solitário o bastante, porque mesmo criado entre quem já se foi, ele ainda está aqui.

Onde está a paixão quando a perspectiva de vida já está morta? Onde está a paz quando a vida foi lhe entregue pela morte do mesmo sangue? Quando se encontra a tão esperada solução ao sufoco de uma vida regada pela morte, é hora de dizer adeus definitivo para quem não pode viver ao lado. As despedidas são péssimas, mesmo sem precisar de um funeral. De toda forma, é redescobrindo a vida que a morte sossega, e seguir em frente é inevitável para quem quer realmente viver.

Autor: Neil Gaiman
Ilustrador: Dave McKean
Tradutor: Ryta Vinagre
Gênero: Literatura Estrangeira/Terror/ Fantasia/Infanto Juvenil
Editora: Rocco/Rocco Jovens Leitores
Nota: 5.0

segunda-feira, 25 de março de 2013

Mas Podemos Continuar Amigos...

A frase do título pode ter sido ouvida por várias pessoas na história da humanidade, principalmente pelo homens. O importante é que o autor Mawil faz com que essa frase torna-se algo cômico e indolor aos olhos de quem ler essa obra. Situado em Berlim, a HQ passa-se durante uma conversa de bar entre amigos, e um deles relata sua primeira grande paixão, e frisa entre os amigos como ele foi gostar de uma pessoa na qual o destino fazia questão de colocá-la em seu caminho. A conversa é muito bem dividida em quatro capítulos, mostrando desde o começo, ainda na escola dominical, quando os dois sentaram um ao lado o outro, e já mostrando como o personagem principal não é nada interessante. A falta de interesses entre crianças são comuns, principalmente em escolas religiosas. O autor brinca como uma criança chama a atenção da outra sem reciprocidades e não aprofunda o gosto dela para ninguém. Enquanto a cerveja entra pela boca sem invadir os organismos, os amigos se perguntam o que o protagonista teria de interessante na infância, já que ele era apenas uma criança, e provavelmente apenas sua mãe olharia para ele com os olhos do cuidado. Nada mais do que isso.

Um acampamento de verão no meio do nada seria ótimo para desparecer as cabeças de jovens adolescentes com vontade de crescer. Eis que aquela menina que nunca lhe deu atenção na escola aparece em outro grupo acampando. Dessa vez são apresentados, com o nó na garganta do reconhecimento logo de cara. O momento em ficarem a sós aparece assim que a chuva surge causando surpresas nos dois protagonistas. A barraca de acampar é mais do que uma simples barraca. É um quarto de motel, um palácio repleto de luxuosidades, ou um palácio de festas da idade média. As cervejas já estão bem adiante da segunda rodada, as ideias começam a surgir sem freios e bom senso. Agora foi a vez do protagonista dizer onde errou, e como errou. Sem culpar a ninguém por nada, tudo torna-se compreensível pelo texto do autor.

Já na idade adulta, em plena Berlim da década de 90, o protagonista mora em um prédio abandonado, é o cenário de mais um enorme momento de amor. Heroes do David Bowie ainda é tocado até furarem os discos de tanga repetições. Os pensamentos de todos estão mais próximos de chegarem em acordo, o mundo está mais agradável perante a consciência de cada personagem. Dessa vez, não existem desculpas que impeçam um amor inocente, acontecer. Mas o que custava para eles? Sim, o querer. Se na infância era a falta de atenção, na adolescência foi a falta de experiência, na idade adulta seria o querer. Estasiado, excitado, obcecado e apaixonado, era a vez do protagonista achar-se que em seus braços seria o local de proteção tão desejado por ela. As cervejas já estavam tomando conta de seus cérebros, e eles, o tão balo casal, continuaram amigos...

Autor: Mawil
Gênero: HQ's
Editora: Zarabatana Books
Nota: 4.5

O Homem que Calculava

Em meio as areias do deserto no Oriente Médio aparentam ser um local calmo, sem pretensões e desejos profundos. Ainda no Império Persa, o livro do brasileiro Malba Tahan coloca em prova que as proezas matemáticas de Beremiz Samir são além de belas, afrodisíacas. O livro não tem nenhum momento pornográfico, mas dá para ver que homens e mulheres desejam ao menos ser um gênio como ele uma vez na vida. Cobiçam isso como se poderia ser a salvação de suas vidas desérticas e sem graça, com riquezas e glamour que deixam todos entediados. O mesmo encanto causado por sua proeza, pode servi-lo como motivos para ser morto, justamente pela cobiça.

As areias do tempo no deserto passam mais devagar, com esse pensamento, Samir entra em ação várias vezes, alucinando pessoas normais sobre números infinitos deixando reis, poetas, xeques e outros sábios lhe respeitando por mais do que ele mesmo poderia imaginar. A falta de malícia do personagem dá lugar ao inimaginável mundo dos sonhos perdidos pela dureza na vida no deserto. Cruzar o deserto sem água virou costumes para quem não tem escolha, além de tentar contar as estrelas vistas no Céu. É dessa vida de sonhos que Samir vive, um dia poder contar o que não se conta e vivenciar o que para ele mesmo não se vive. De uma forma simples e de visão ampla, O Homem que Calculava realizará os desejos de uma vida melhor.

Autor: Malba Tahan
Gênero: Literatura Brasileira/Infanto Juvenil
Editora: Record
Nota: 5.0

sexta-feira, 22 de março de 2013

As Vantagens de Ser Invisível

Acima de tudo, esse livro é sobre frustrações e referências. Com a narrativa simulando o formato de cartas, os capítulos do livro não são, de forma alguma, cansativos. Com um amigo recém morto por suicídio, um adolescente "comum" muda-se para outra cidade, e na escola conhece novos amigos. Dessa forma explicitamente clichê, o livro começa já mostrando o que iremos ver até o final, só que colocadas de outras forma, em outros contextos e perplexidade. A curiosidade e inocência, personagens principais na vida de Charlie deram lugar para Sam e Patrick, irmãos completamente opostos que completam um ao outro, e claro, o novo amigo Charlie. O mundo novo também é clichê, mas como sempre depende de como o autor coloca-se nesse desafio, não custa nada tentar ler. As referências são a parte que deu pra ver que o autor gostou de colocá-las no livro. A música favorita de Charlie é Asleeps, do The Smiths, dando margens da citações do personagem em uma frase da música que fala  sobre "eu me sinto infinito". Ou até mesmo as referências literárias, pois Charlie tem um professor de literatura que lhe dá muita atenção, e muitos títulos para ele ler. As referências literárias são mais fortes do que as musicais. O autor coloca elas com mais presença, colocando em pauta que realmente, esses livros poderiam sim mudar uma vida, ou várias.

Charlie é um garoto simples, mas curioso demais. Provar alguma bebida alcoólica é quase um passo no universo particular fora de sua cabeça. Um beijo, seu primeiro beijo, retrata para ele mesmo, de que o mundo, por mais desconhecido que seja, pode ser prazeroso pelo desconhecido. Drogas, punk rock, The Rock Horror Picture Show, solidão, raiva, vergonha e honestidade, tudo isso é colocado no livro como momentos na vida de todo mundo, mesmo que seja em momento ruins. Todos, por sorte, encaram isso como a péssima experiencia da maturidade.

Autor: Stephen Chbosky
Tradução: Ryta Vinagre
Gênero: Literatura Estrangeira/Infanto Juvenil/"Sick Lit"
Editora: Rocco/Rocco Jovens Leitores
Nota: 4.5

quinta-feira, 21 de março de 2013

Nova York - A Vida na Grande Cidade

Will Eisner fez fama no mundo dos quadrinistas por saber escrever, não só apensar desenhar. Preso no dia-a-dia de quem morava em uma cidade enorme, como Nova York, deu toque dramáticos em HQ's, formando legiões de fãs adultos e obviamente, sufocados pelo trabalho e pouco descanso, nada além do que isso. A obra passa-se dentro de um prédio antigo e condenado em plena Nova York que não para de crescer e modernizar-se. Dividido em quatro atos e pequenos "semi-atos", o livro torna-se grande pelos detalhes da narrativa e dos traços do autor. Os traços do autor eram ricos em expressões dos personagens e a cenografia, mostrando exatamente como era o local no mudo real.

A singularidade do autor nos textos da obra dão a entender o porque a imortalidade que lhe rendeu até nome de prêmios. O primeiro ato, chamado de O Tesouro da Rua C é de uma sensibilidade incrível e perspicaz. Retratando a correria de "figurantes" que diariamente perdem pequenos pertences, que podem, ou não terem seus valores. Um simples bueiro de calçada pode esconder tesouros inimagináveis pelo consciente humano. Dando espaços para curiosidades, dramas, romance e até uma fuga, o primeiro ato é pequeno, mas marcante. O segundo ato, chamado Degraus, é muito mais simples do que o título mostra. Colocando uma escadaria como personagem principal do dia-a-dia de algumas pessoas e situações que sentam, comem, encontram-se e até apaixonam-se, tudo isso nos degraus da entrada do prédio.

Assim sempre foi Will Eisner, um artista preso nos detalhes e sensibilidades alheias, que transbordava criatividade com lápis e nanquim. A edição muito bem tratada pela Quadrinhos na Cia.(Companhia das Letras) deixou-o ainda mais bonito. Uma introdução do Neil Gaiman e até mesmo do autor, o livro não deixa ninguém desejar e cogitar que a edição ficou ruim. Resumindo, uma obra para ter em casa.

Autor/desenhos: Will Eisner
Tradução: Augusto Pacheco Calil
Gênero: HQ's
Editora: Quadrinhos na Cia./Companhia das Letras
Nota: 5.0

O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias

O mundo imaginário do Tim Burton já é famoso demais no cinema. Mas no mundo da literatura, Burton não é tão famoso. Tirando os livros especializados em cinema que enchem as livrarias alheias, nas prateleiras de poesia pode ser encontrado O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias, um simples e pequeno livro de poesias piradas e incomuns que só o Burton poderia ter escrito. Evocando a doçura e a tragédia de vidas, personagens marcantes e de fato, irreais são alguns ingredientes nas páginas do livro, que só pela capa deixa qualquer ser pensante preso, tentando desvendar o motivo de uma pequena capela no meio do oceano. Textos pequenos e diretos fazem o livro ser muito bom, e muitos personagens deixam o gosto de que merecia mais páginas, como o Menino dos Olhos de Prego, ou até o Pequeno Menino Ostra. Incompreendidos e desajustados, fora de qualquer padrão estético e social, lutam para encontrar, talvez o amor, ou apenas a aceitação, no mundo cruel.

Esse livro não seria do Tim Burton se não tivesse suas ilustrações singulares, com direito, em muitos, muito sangue. Os traços sem contorno e distorcidos deixam o susto e o prazer em ver suas ilustrações lado-a-lado. Os poemas tem pelo menos uma página contando uma pequena história de cada personagem do livro, mas nem todos tem mais de uma, o que para muitos, irá incomodar. Fora isso, o livro, comparando em vários filmes do diretor, incluindo os mais recentes, se destaca pela enorme qualidade. O livro, em resumo, nos faz lembrar o quanto somos desesperançados infelizes, e que no fim das contas, o lado negro de cada homem prevalece.

Autor: Tim Burton
Traduções: Marcio Suzuki
Editora: Girafinha
Nota: 5.0

quarta-feira, 20 de março de 2013

O Fim da Eternidade

Falar de amor e tentar explicá-lo pela visão científica ficou algo muito clichê em tempos modernos, mas antes de tudo isso virar moda, Isaac Asimov tentou abordá-la, colocando sua imaginação visionária antes de todo mundo. Os Eternos, como são tratados aqui no livro, são chamados os técnicos que lidam diariamente com o destino de bilhões de pessoas, monitorando e controlando o tempo. Uma profissão como essa, óbvio, não seria capaz de criar relações com outras pessoas, privando-os de vida social, familiar e amorosa. Assim é a vida de Andrew Harlan, cheio de vazio e claro, os destinos de vários em suas mãos. as mudanças de realidades proposta pelo autor é digna de agradar aos fãs de ficção científica mais antigos, assim como o próprio autor. Alterar o curso da história é de fato um ato filosófico entre treinamentos rigorosos e por uma rígida autodisciplina.

O raciocínio do autor é simples: e se um amor correspondido tivesse graves consequências? O curso da história já é sensível demais para ser dividido com outras coisas, ainda mais com pessoas envolvidas. A amargurada vida de Harlan é abalada por uma bela jovem chamada Noÿs Lambert, e nasce a dúvida de algo sendo feito de forma certa, ou tudo que se acredita não passa de uma mentira. O charme, elegância, competência e beleza deixa toda sua vida, pessoal e profissional, em prova. Se a história foi mudada o suficiente para ele apaixonar-se por uma bela moça, então muda-la por quê? Assim Asimov toca no leitor, questionando-o sobre o que é bom, e o que é certo para nós.

Asimov sempre foi famoso por brincar com o imaginário de seus leitores. Em o Fim da Eternidade não seria diferente. O que perde-se no livro é alguns capítulos um tanto desnecessários no meio do livro, fazendo alguns, com toda certeza, pensar se deve ou não desistir da leitura. Tirando isso, o tempo passa, e a história se destaca.

Autor: Isaac Asimov
Tradutor: Susana Alexandria
Gênero: Literatura Estrangeira/Ficção Científica
Editora: Aleph
Nota: 4.0

O Mundo de Sofia

Com um peso enorme na responsabilidade de iniciar novos fás de filosofia, O Mundo de Sofia marcou a vida de muita gente. A responsabilidade de citar grandes filósofos e apresentar-se como romancista foi encarada com muita responsabilidade por Jostein Gaarder de frente, e muito bem elaborada, por sinal. O mundo é fantástico por natureza e muita gente perde por não prender-se aos detalhes. Detalhes esses, que o autor coloca com pitadas de curiosidades e perspicácia. Alberto Knox é o "professor" da vez, que por intermédio de cartas, ensina a jovem Sofia o poder da consciência, conhecimento e flexibilidade no raciocínio. A expensão mental recebida pelo leitor é inevitável. O livro lhe proporciona conhecimentos que não se aprende nas escolas, infelizmente.

Filha de um militar ausente, Sofia é uma jovem normal, que tem esconderijos onde pode pensar sem receber pressões da sociedade fora do seu mundo particular. Diga-se de passagem, a transparência usada pelo autor é de fato intrigante. Todas as pessoas precisam unir-se com suas fantasias e vontades de esconder-se para melhor pensar. As vontades de sumir são impostas por todos os seres pensantes. Algumas metáforas criadas pelo autor também podem ser utilizadas no dia-a-dia. Umas das melhores, ou a melhor, é referente aos pelos dos coelhos e os bebês. Quando nascem, os homens tem a maior capacidade de pensamento livres de morais e pudores, fazendo-os despertar não só a curiosidade, mas a vontade de aprender sobre o mundo ao redor.

Com o poder de lhe fazer ser uma pessoa curiosa, O Mundo de Sofia fez os anos de modernidades e edições de livros sucesso de vendas, ser resumido em um ótimo presente. se de fato, ele for um ótimo presente, com toda certeza ele é ótimo em ser lido. O conhecimento do autor leva ao leitor um tipo novo de interesse literário. Tomando cuidado com a faixa etária do leitor, o livro pode causar pensamentos confusos e equivocados sobre opiniões pessoais. Tirando isso, vale muito a pena.

Autor: Jostein Gaarder
Tradutor: Leonardo Pinto Silva
Editora: Literatura Estrangeira/Romance
Nota: 5.0

domingo, 17 de março de 2013

Ensaio Sobre a Cegueira

Muita gente fala desse livro como um Bíblia sagrada do mundo moderno pós-apocalíptico, e diga-se de passagem, é a mais pura verdade. Ensaio Sobre a Cegueira é, dentre muitas coisas, um livro sobre o desapego e talvez, maturidade. Saramago foi um gênio pensante sobre o mundo, sobre as relações do homem com ele mesmo e estado de espíritos. Esses três pensamentos, em exato, estão nas páginas do Ensaio Sobre a Cegueira. Um homem cego por não ter prestado atenção no mundo ao redor, inclusive no trânsito onde encontrava-se. Um médico cego por estar preocupado demais com seus pacientes e não cuidar de si mesmo. Uma mulher cega por esconder os olhos por trás dos óculos escuros. Um homem simples e miserável com um dos olhos cegos preso no desejo de voltar a enxergar deixando-o cego na epidemia de cegueira. Um homem cego por apenas ver oportunidades em outras pessoas para obter sexo. A metáfora de uma epidemia deixa mais clara a intenção de alerta do autor. A única que passa por toda epidemia sem sofrer nada, apenas a angústia de cuidar do marido cego, é justamente a esposa do médico. Essa, por sua vez, não ficou cega por saber enxergar os mínimos detalhes do que lhe cercava, inclusive apenas observando, conseguia ver as melhores coisas nas piores coisas.

Os personagens sem nome apenas deixam a trama mais densa, deixando o leitor com uma impressão de quem esqueceu alguém, e principalmente, a sua importância durante todo o desenvolver de relações entre eles. A esposa do médico é de fato, a imagem e semelhança do Deus que tudo vê e tudo pode.O homem com o tapa-olho deixa o pensamento de responsabilidade de entreter as pessoas doentes, assim como entreter ele mesmo. Um simples rádio de pilha salva em vários momentos, o dia inteiro. O orgulho humano desaparece conforme o governo destrata os infectados, tratando eles como, de fato, doentes incuráveis. Racionamento de ração mandada pelo governo causa revolta ao leitor, conseguindo colocar a situação na imaginação com o pensamento de "se fosse comigo, não sei como reagiria". Aliás, o local é indefinido, dando a entender que tudo descrito pode acontecer em qualquer nação.

O livro mostra que Saramago não era só um bom escritor, como uma pessoa inteligente que sempre colocava as possibilidades nas imaginações alheias. Um simples cão faminto torna-se um monstro em suas descrições. Uma simples caminhada na rua devastada pela fatalidade torna-se uma cruzada em busca de lugares seguros. Uma simples queda de chuva transporta um alívio em sentir a renovação mutua incrível. A regra ortográfica criada pelo próprio autor fica confusa no princípio da leitora, mas não impede de que as interpretações corretas aconteçam. De fato, é incrível o que Saramago criou, fazendo com que seja confirmado, que Ensaio Sobre a Cegueira seja um dos livros mais impostantes da história da humanidade.

Autor: José Saramago
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Literatura Estrangeira/Romance
Nota: 5,0

sexta-feira, 15 de março de 2013

Bando de Dois

Que o Brasil cresceu muito no mundo das HQ's, todo mundo já sabe, o que pouca gente ainda não sabe, são os nomes responsáveis por esse crescimento. Falar dos gêmeos Fabio Moon e Gabriel Bá é fácil demais, mas falar de nomes menores, que lá fora representam bem o Brasil é complicado. Danilo Beyruth com toda certeza deixou muitos orgulhosos quando escreveu e desenhou Bando de Dois. Seria muito resumir em poucas palavras o que não pode, por si só, ser resumido, mas com toda certeza pode-se resumir essa obra como um possível orgulho do Sergio Leone e Clint Eastwood. Western Spaghetti deu o lugar para o "Western Feijoada", ou conforme a ambientação do livro, "Western Buchada".

Situado no Sertão nordestino, paisagens desoladas, povoados miseráveis no meio da seca, bandidos mal-encarados, tesouros escondidos, gente humilde, trens carregados de dinamites e cabeças encaixotadas para exposição são algumas das coisas vistas em excesso aqui. O tal bando de dois, Tinhoso e Cavêra di Boi são os anti-heróis da vez, com apenas uma vontade, vingar o bando original que era composto por 20 bandidos. Com personalidades distintas, ambos precisam um do outro para conseguirem emboscar a polícia que transporta as cabeças para uma cidadezinha no coração do Sertão. Tinhoso, de fato, é o personagem mais crente da história inteira. Visões do bando o assombra pedindo a última missão em salvá-los e lhe darem a paz que tanto desejam. Cavêra di Boi é mais concentrado na missão, quer por que quer matar os soldados e isso basta. Não precisou de visões para aceitar o resgate e pronto, foi. Os traços são perfeitos. Detalhados demais pelo Beyruth. Luz e sombras colocadas nos locais certos, nos momentos certos e situações certas. Encantador só em folhear o livro.

A única coisa ruim do livro é ser pequeno demais. Tempo médio de leitura de 45 minutos e pronto, acabou o livro, deixando o gosto de "quero mais", ou simplesmente te faz pensar "só isso?". Não existe nenhum gancho para continuações, nem para prelúdios. Apenas isso e só. Sem enrolação, vão direto ao final.

Autor/desenhos: Danilo Beyruth
Editora: Zarabatana Books
Gênero: HQ's
Nota: 4,0

quinta-feira, 14 de março de 2013

Os Três Estigmas de Palmer Eldritch

Drogas! Com toda certeza essa palavra define Os Três Estigmas de Palmer Eldritch. O vício e a vontade de ter uma droga legalizada em qualquer país do mundo é muito bem relatado em forma de agonia, abstinência e desgosto. A má contade em ter um emprego fixo e sustentar seus luxos são bem visíveis aos olhos dos leitores. Pela vontade explicita de personagens querendo assassinar outros personagens, fez-se um deles uma pessoa desiludida com a vida louca e vida medíocre de dizer o que é bom ou não é para o seu trabalho. O governo limpa a barra de uns e destrói a barra de vários. O autor, como sempre, colocando muita coisa do mundo real em seus romances ilícitos deixando pedaços do cotidiano incomodados com a semelhança.

A Terra excessivamente quente lembra um aquecimento global forçando os humanos a colonizarem Marte, mas com condições miseráveis. Por uma droga chamada Can-D, em sua única finalidade, tenta traduzir aqueles que a consomem para uma outra realidade, boa ou não. A concorrência não demora a chegar. Chamada de Chew-Z, a substância é comercializada com o slogan de "Deus promete a vida eterna, nós cumprimos a promessa" e entra na questão de que eternidade seria essa. O controle proporcionado pela droga é quase potente quando a onipresença de Deus para os cristãos, dando a possibilidade de até onipotência e onisciência. De fato, quem a usa torna-se "imortal" para os olhos que quem não a usa. Mas enquanto está no efeito, o usuário sofre com a submissão imposta por um Deus maior no efeito.

Como sempre, Philip K. Dick consegue escrever certo e simples em linhas tortas e diretas. Em momentos diversos, o autor fez parecer sua obra em uma novela, mas obviamente que nem tudo é o que parece, ainda mais referindo-se do K. Dick.

Autor: Philip K. Dick
Editora: Aleph
Gênero: Literatura Estrangeira - Ficção Científica
Nota: 4,5

sexta-feira, 8 de março de 2013

Eu Receberia as Piores Notícias de seus Lindos Lábios

Por um mundo menos ordinário, talvez muita gente deseje, mas não faça nada. Mudar-se de uma cidade grande para uma pequena talvez seja o primeiro passo de alguém nesse quesito. Deixar a correria e os luxos deve, de fato, ser o melhor remédio, mas como nem tudo na vida são flores, nada "melhor" do que uma paixão surgida repentinamente. O problema não é viver em cidades pequenas e se apaixonar por alguém bonita, é viver em cidades pequenas e se apaixonar por mulheres bonitas e casadas. A vontade de  privar-se não é exclusiva de profissionais falidos que não tem amigos e familiares, mas o destino sempre lhe deixa ao lado de outras pessoas falidas, sem amigos e familiares. É disso que Eu Receberia as Piores Notícias de seus Lindos Lábios fala, pessoas falidas socialmente, mas não sentimentalmente.

Viver um mundo onde a cidade lhe sufoca, por escolha própria, é como querer entrar numa gaiola onde os olhos nunca deixam de mirar onde chama-se mais atenção. A atenção, por sinal, muitas vezes falta para os personagens. Esses, por suas vez, também não dão atenção para todo tipo de acontecimento, até porque, até em ser pessoas de bem, eles faliram. Pensões falidas, amores falidos, atos falidos, amizades falidas e um amor próspero pela vontade de fugir e viver de verdade, sem falência próxima. A falência, essa, que alimenta a vontade e o sonho do amor recíproco e tranquilo. Esse por sua vez, custa caro por demais. A falta de dinheiro e oportunidades massacram dois corações já jogados na vala.

Além da cidade ser pequena, um casamento não desejado ainda impede do que isso tudo deixe, deixa o leitor angustiado por não saber como tudo isso pode desenrolar. O autor Maçal Aquino é excelente nas descrições de momentos, diálogos e personagens. Os diálogos dele são cheios de shows e realizações quase impossíveis de acreditar, sem falar na profundidade. Descrições de locais e personagens também são boas, mas são no diálogos que ele se faz.

Autor: Marçal Aquino
Gênero: Literatura Brasileira/Romance
Editora: Companhia das Letras
Nota: 5,0

quinta-feira, 7 de março de 2013

Pagando por Sexo

Que o autor Chester Brown é pirado, todos já sabem, mas ninguém imaginava que sua maior proeza seria escrever uma auto-biografia revelando suas experiências sexuais com prostitutas. Antes de tudo, ele sempre coloca a dúvida. "E se...?" O medo em ser enganado aparece constantemente por nunca ter um dia cisto o universo do sexo pago. A questão das prostitutas não serem presas a alguém, faz com que o autor encare isso como liberdade sexual sem satisfações e com muita convicção de liberdade. A falta de dinheiro para manter o vício é algo engraçado pelo ponto de vista do autor, assim como suas pesquisas sobre o perfil de cada profissional, e alguns casos, a decepção em ver que o perfil anunciado não era nada com o físico.

O maior "engana besta" da obra vem com o passar das páginas, quando o autor começa a questionar o amor romântico e dar mais razões para o sexo casual e libertário. Os relacionamentos do autor de fato nunca foram dos melhores, é notório com as lembranças do mesmo pelo quadrinhos. Mas relacionar-se com pessoas da qual não querem nada mais do que um momento de sexo e dinheiro, para ele, acaba sendo uma benção. Conversar após a transa dão a entender que era exatamente isso que o autor precisava, apenas uma pessoa para conversar, chegando a passar a impressão de carência, ou simplesmente uma falta de atenção.

No fim das contas, a poligamia nunca foi o forte do autor. De repente já foi, mas como os traços e textos da obra relatam, é sendo livre que se ganha mais. O amor romântico existe para vários, mas o não romântico é muito mais fácil, além de muitas vezes, mais prazeroso. Fica explicito que ele sente falta de ter alguém do lado para chamar de seu, mas durante as páginas, nota-se que na opinião dele, isso é possessivo demais. O autor, por sua vez, prefere apenas conversar do que ter.

Autor: Chester Brown
Tradutor: Marcelo Brandão Cipolla
Gênero: HQ's
Editora: WMF Martins Fontes
Nota: 5,0

segunda-feira, 4 de março de 2013

Noturno - Trilogia da Escuridão - Livro 1

Em tempos que adolescentes liam vampiros que brilhavam, zumbis que pensavam e tinham sentimentos, entre outras coisas péssimas, o primeiro livro da Trilogia da Escuridão veio dos Céus diretamente para as livrarias. Nadaram contra corrente de todas as tendências do momento editorial e acreditaram no terro de verdade. Não poderia ser de forma alguma mal recebido. Escrito por Chuck Hogan e Guillermo del Toro, o livro lhe mostra todos tipo de situações colocadas pelos "vilões" em plena Nova Yorque.

Não existem heróis para serem chamados de protagonistas. Com o misto de vampiros e zumbis, as criaturas infestam NY com pressa, dando a vários personagens a chance de se tornar protagonista. Um ladrão mexicano, um médico de resgates e um proprietário de antiquário talvez sejam os mais importantes. A certeza é que o antagonista é uma criatura careca de mais de dois metros que veste um manto preto e quer o mundo ao seus pés. Não só ao seus pés, como lhe dando todo o sangue possível. E sangue é o que não falta no livro. Roqueiros góticos deixam a pose de lado pela infecção não por acaso, mas por estar presente. Nunca um roqueiro gótico teve tanto sentido quanto nas páginas desse livro. As descrições de criaturas andando peladas na rua com marcar de autópsia deixa que a literatura de horror volte ao seu pedestal com facilidade de tamanha qualidade no texto. Todos sabem que del Toro não brinca com o horror e o fantástico em seus filmes, no papel não seria nada diferente, ainda mais com a ajuda do Hogan, de forma alguma poderia ficar ruim.

O problema é que o livro em si tem vários flash de lembranças de onde surgiu a tal criatura "líder", e atrapalha um pouco o foco da narrativa. Não atrapalha a vontade de terminar o livro, até porque todos querem saber como surgiu, mas a formatação do texto deixou isso a desejar.

Autores: Chuck Hogan & Guillermo del Toro
Traduções: Sergio Moraes Rego & Paulo Reis
Gênero: Terror
Editora: Rocco
Nota: 5,0

O Apanhador no Campo de Centeio

A juventude sempre foi um incômodo pros mais velhos, ainda mais quando a juventude tende a ter vontades próprias. Não é novidade que todo jovem tem seu lado chato e egoísta de querer que o mundo gire em torno do seu umbigo, muitos autores sem querer colocam isso nas suas páginas referindo-se em momentos de seus jovens personagens. O problema é extrapolar essas vontades e realmente achar-se certo no quesito "sou o dono do mundo e pronto". O Apanhador no Campo de Centeio passa de todos os limites que um personagem pode ser chato. Talvez J. D. Salinger tenha descrito a si mesmo na composição de seu personagem, não se sabe.

O chatice seria menos incômodo se o autor não a deixasse em primeiro plano em quase todas as situações do personagem. Perder a virgindade é algo tão "complicado", que qualquer ser humano não se prenderia a estética da parceira, exceto um garoto de 16 anos que se acha bom demais no mundo poluído que vive por ser alto e ter um porte atlético. Que vários momentos você concorda com ele, isso é um fato, até porque, seu colega de quarto no colégio interno tem os dentes podres pelo simples fato de não curtir escovar os dentes e gostar de incomodar. Isso de fato, deve ser péssimo de se conviver.

Se alguma vez o personagem elogiou alguém durante as páginas, provavelmente foi pra logo depois, lembrar de um defeito do "alvo" de sua chatice, pois por mais próximo que ele fosse de alguém, ele sempre criticava com o intuito de pulverizar a pessoa do mundo. Não se trata apenas de pessoas de fora do seu agrado, até pessoas que ele concordava entram na listas. Essas por sua vez, encabeçam a lista pessoal dele. Não é simplesmente apontar dedos e tudo se resolve, é saber dosar o que ele poderia até usar das pessoas. Se ele tentasse usá-las talvez o livro não fosse tão chato como o próprio personagem, mas nem isso ele chega perto. Prefere apenas apontar o dedo pros defeitos e simplesmente enganar-se de que um dia não precisará deles.

Autor: J. D. Salinger
Tradução: Antônio Rocha, Jorio Dauster & Jairo Alencar
Gênero: Literatura Estrangeira
Editora: Editora do Autor
Nota: 2,0

domingo, 3 de março de 2013

Surgimento de Interesses Literários

O mundo mudou bastante desde o famoso Big Bang, mas isso já não é novidade. Alguém, um dia, para nossa alegria, criou a forma de comunicação escrita. Daí nascemos. É, de uma forma resumida os gostos acontecem. Não por acaso, mas o acaso nos levou diante de alguém que nos deu um livro para ler.

O melhor das possibilidades em ter um livro em mãos, além de ter conhecimento, é conhecer novas pessoas que tenham um gosto parecido com o seu, ou completamente diferente, dando a possibilidade de conversas e até mesmo trocas, de gostos pessoais.  Dessa forma, a amplitude de conhecimento aumenta e não esfria. O prazer de pegar um livro está muito além daquele livro chato que sua professora de português te obrigava ler ainda na escola, e muito menos aquele livro mais chato ainda que tem que ser lido durante seu curso superior. O livro fala com você de uma forma que alguém não pode falar. Até te acariciar, se for possível.

De uma forma simples e resumida, eu venho aqui falar sobre livros impressos, digitais e se puder, até sobre mercado de livros no mundo atual. Criticar, elogiar, chorar, indicar, detestar e até gozar. O bom gosto é como um grande e inesquecível show, não pode parar.